quinta-feira, 20 de maio de 2010

Draia e a Invasão Maragata em Candelária

O fato que contaremos a seguir demonstra a bravura desses homens que sempre estiveram envolvidos em lutas, guerras e revoluções por este imenso pampa gaúcho. Tal qual o Capitão Rodrigo Cambará, célebre personagem da saga escrita por Veríssimo, os homens da família Pinto Porto, acostumados com as peleias que participaram, desde o Capitão Mor Francisco Pinto Porto, o Coronel Francisco Pinto Porto, o Coronel Quinca, passando gerações, ficavam inquietos e entediados quando por essas bandas o vento soprava calmo.

Foi na primavera de 1926, pouco tempo após o término da sangrenta revolução de 1923, quando os ânimos entre maragatos e chimangos ainda estavam exaltados, e usar lenço vermelho ou qualquer veste nesta cor era desaconselhável, em uma tradicional corrida de cavalos (as corridas de carreira) no Faxinal dos Porto, interior de Candelária, que se passa essa história.

Waldemar Pinto Porto, o “Draia”, então com 21 anos, usando lenço colorado, julgava a corrida de cavalos quando foi surpreendido por sete irmãos da família Cunha e mais um inimigo, a tiros de revólver e golpes de adaga. Em uma época onde todos andavam armados, pode-se imaginar o entrevero que isso gerou. Estampidos de revólveres, relinchos de cavalo, gritos de “ala pucha!”. Mulheres e crianças trataram de correr e se abrigar.

Um amigo de Draia levou um tiro no meio dos dedos da mão e outro que entrou pelo mamilo e saiu às costas, mas não morreu. Montado em seu cavalo baio, sacando seu revólver calibre trinta e dois, enfrentou os atacantes disparando as únicas três balas que possuía. Conseguiu quebrar o braço de um dos Cunha. Outro também caiu, ficando com a bota presa no estribo, sendo arrastado pela montaria. Um cunhado de Draia, Heitor Pinto Porto, foi ajudar e tombou com uma facada, morrendo estrebuchado.

A peleia só acabou quando vários parentes dele dispersaram os Cunha. Draia não se feriu, embora seu rosto ficasse chamuscado de pólvora e seu cavalo morto por um balaço.

Após o ocorrido, o intendente de Candelária, coronel Albino Lentz, investigou o caso e resolveu incriminar Draia e os irmãos Cunha. Os Pinto Porto, que nunca abdicaram do lenço vermelho e dos ideais federalistas, desconfiavam que o coronel Lenz, nomeado no ano anterior pelo governador Borges de Medeiros, estava fazendo novas retaliações aos maragatos. Além disso, os Pinto Porto não podiam entrar na cidade sem serem antes desarmados, em uma época onde era comum portar revólveres de cano longo, facões, adagas na cintura.

Por essas e outras, Draia hesitava em depor na delegacia. Seu sangue revolucionário ferveu quando soube que a família Cunha havia prometido 11 votos ao coronel Albino Lentz, nas próximas eleições, se recebesse proteção no processo.

Quando os Pinto Porto já esquentados com a situação, começavam a azeitar os mosquetões, guardados em seus porões (por essas bandas eles não chegavam a ganhar pó), apareceu em sua casa Sérgio Ventura da Rocha, chefe maragato de Cachoeira do Sul, dizendo-se representante de um grande caudilho da Revolução de 23, José Antônio Neto (o Zeca Neto). Ventura sugeriu a Draia que não se apresentasse à polícia, e que mandaria reforço para dar uma “escaramuça em Candelária” e “dar um galope” no intendente. Foi o empurrão que faltava.

Foi então que, na noite de 25 de dezembro, 19 maragatos – entre eles Draia, seu peão Hilário, Fernando Porto (tio de Draia), João Carlos Porto (irmão de Heitor, morto durante a briga na corrida de cavalos) – partiram do Faxinal dos Porto para tomarem a cidade na manhã seguinte. Os moradores, atônitos, foram acordados com o barulho das patas dos cavalos na rua de chão batido. Alguns tomavam seu chimarrão matinal, como de costume, quando ouviram brados e tiros de revólver.

O grupo sitiou o prédio da Intendência. A guarda do presídio municipal, junto a intendência, fugiu apavorada. As celas, onde haviam dois presos, entre ele Cassiano Pinto Porto, que havia matado João Antônio de Moura, por questões de honra familiar, foram abertas. Draia contou a Zero Hora, em uma reportagem feita por esse jornal em 1926, intitulada “A Ocupação de Candelária pelas tropas maragatas”, que “durante do sítio, por simples fanfarrona, obrigou o intendente a atravessar o rio pardo apenas de ceroulas”.

A ocupação de Candelária durou pouco mais de um dia, mas já se contavam 41 maragatos reunidos. O Intendente Albino Lentz, não se dando por vencido, requisitou um pelotão da Brigada Militar de Porto Alegre, de onde vieram 150 homens armados até os dentes, dando fim ao sítio e dispersando os maragatos.

Aconselhado por seu tio Francisco Pinto Porto Neto, filho do Cel. Quinca, e por seu avô Oswaldo Ritz, Draia se aquietou em casa. Mais tarde, tendo sido pego pelo Intendente e mais 13 policiais – um deles tendo dito “agora botamos a mão no queixinho dos Porto” – cumpriu 20 dias de prisão na antiga Casa de Correção de Porto Alegre.

Fonte: Zero Hora. "A Ocupação de Candelária pelas tropas maragatas" Por Nilson Mariano. 12/02/1989.

Waldemar Pinto Porto (* 26/05/1905 + 14/10/1991) era casado com Maria S. da Silveira Porto (* 24/03/1904 + 04/11/1997) e filho de José Pinto Porto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário